segunda-feira, 30 de junho de 2014

A vanguarda da expressão: o expressionismo exacerbado

 O expressionismo surgiu na Alemanha, em 1910, com uma forte herança do século XIX. Esta vanguarda teve como fundamento a expressão das manifestações do mundo interior, bem como do subjetivismo do artista, para o exterior, isto é, a obra de arte reflete o sentimento e sensações do artista no momento da criação. Tendo como referência a Primeira Guerra Mundial, o movimento assumiu um caráter crítico em relação à guerra, delatando as péssimas condições de vida da população e os temores da época.
O movimento expressionista nasceu em prol da oposição ao Impressionismo  –tendência da qual provinham. Enquanto o Impressionismo é um movimento que ocorre do exterior para o interior, onde o objeto se transmite no sujeito, o expressionismo ocorre do interior para o exterior, isto é, o sujeito sozinho transmite o objeto, a realidade propriamente dita. Podemos comprovar a tal oposição nas palavras do crítico de arte Giulio Argan: “o expressionismo se põe como antítese do impressionismo, mas o pressupõe: ambos são movimentos realistas, que exigem a dedicação total do artista à questão da realidade, mesmo que o primeiro a resolva no plano do conhecimento e o segundo no plano da ação. (ARGAN, 1993, p.227).
Os artistas denominados expressionistas representavam nas telas imagens criadas em virtude do nosso mundo interior, sem haver a cautela de criar o feio ou o belo.  Em Movimentos da vanguarda europeia, a autora Lúcia Helena aborta esse fato: “ao contrário de outras vanguardas, que refletem otimistamente sobre a tendência e o progresso, como, por exemplo, os futuristas, os expressionistas são mais afetados pelo sofrimento humano do que pelo triunfo.”
  Entre os artistas que aderiram aos traços e pré-requisitos do expressionismo temos, na pintura, Edvard Munch, Vicent Van Gogh, Marc Chagall e Chaim Soutine; na literatura, Ugust Stramm, Kasimir Edschmid, Herman Hesse e Thomas Mann  e, na arquitetura, sobretudo, Erich Mendelsohn
Dos pintores expressionistas, destacaram-se Edvard Munch (1863-1944), e Vincent van Gogh (1853-1890), que compunham suas obras com cores quentes e violentas, bem como com linhas grossas que ajudavam a aumentar a intensidade das obras. Adentrando os trabalhos da vanguarda, o quadro O Grito (1893), de Munch, é considerado o precursor das obras caracterizadas como expressionistas, e retrata a expressão e o sentimento do artista ao criar a obra:

“Caminhava com dois amigos pelo passeio, o sol se punha, o céu se tornou repentinamente vermelho, eu me detive; cansado, apoiei-me na grade – sobre a cidade o braço de mar azul-escuro via apenas sangue e línguas de fogo –, meus amigos continuaram a andar e eu permanecia preso no mesmo lugar, tremendo de medo – e sentia que uma gritaria infinita penetrava toda a natureza”.  (MUNCH, Edvard. Diário pessoal do artista. Disponível em: <http://www.escoladeeducacaoinfantil.com.br/o-grit/>. Acesso em: 08 de abril de 2014)


O painel Guernica, de Pablo Picasso (1881-1973), pintor que também fez parte do movimento Cubista, finaliza os trabalhos da arte expressionista, retratando o bombardeio da cidade que dá nome à obra durante a Guerra Civil Espanhola, de uma forma angustiante, evidenciando o sentimento do artista ao produzir tal arte. 
Posteriormente, no Brasil, a vanguarda expressionista foi a base para a implantação do movimento Modernista em nosso País, com uma exposição, em 1913, do russo Lasar Segall (1891-1957) e outra, em 1917, sobre pintura moderna, de Anita Malfatti. Por aqui, com o advento do modernismo, surgiram nomes de destaque, como Candido Portinari, Nelson Rodrigues, Osvaldo Goeldi e os dois antes mencionados Segall e Anita. 
O expressionismo, portanto, é um movimento da vanguarda europeia que instaura a arte de expor a forma física e espiritual do artista em sua obra, de forma subjetiva e peculiar, com traços fortes, tons quentes e pinceladas disformes, capazes de originar o sentimento exato no receptor.
Para finalizarmos, um trecho de Hermann Bahn, sintetizando o conteúdo:
“O homem grita das profundezas da sua alma, a época toda se torna um grito isolado, perfurante. A arte também grita, dentro da profunda escuridão, grita por socorro, grita pelo espírito. Isso é expressionismo.”(BAHN, 1990)

Biografias de alguns pintores expressionistas

Munch

Edvard Munch nasceu em 12 de dezembro de 1863 em Loten na Noruega. Era o segundo filho homem do Dr. Christian Munch com a sua esposa Laura Cathrine. Além do irmão, Andreas, Munchtinha três irmãs, Sophie, Laura e Inger. Após um ano, sua família muda-se para a cidade deChristiania, hoje conhecida como Oslo. Quando Munch tinha cinco anos, 1868, sua mãe, Laura Cathrine, morre de tuberculose e após nove anos, sua irmã Sophie, também falece pelo mesmo motivo da mãe. Em 1879, Munch começa a estudar engenharia, mas um ano depois desiste dos estudos e decide ser pintor. Desde agosto de 1881 Munchfrequenta a Academia de Desenho de Oslo. No mesmo ano, vende dois quadros e pinta seu primeiroauto-retrato. Um ano depois ele aluga um estúdio em Oslo junto com seis outros estudantes de arte.Em 1883 exibe pela primeira vez suas obras na Exposição de Outono de Oslo.  Em 1885, Munch ,expõe na Exposição Mundial de Antuérpia. Em Paris, estuda no Salon e no Louvre. E inicia três obras da maior importância: A Criança Doente, O Dia Seguinte e Puberdade. A obra A Criança Doente escandaliza o público na Exposição De Outono em Oslo, em 1886. Em 1889 teve sua primeira exposição individual e seu morre em Novembro do mesmo ano. A partir de 1904, seguem-se numerosas exposições. Torna-se membro daSezession berlinense. Expõe 20 quadros naSezession vienense. Sua primeira exposição nos Estados Unidos foi em 1942. E em 1944, Munch morre tranquilamente em Ekely, no dia 23 de Janeiro.  Deixa sua propriedade de Oslo, a qual abre o Munch-Museum em 1963 para celebrar o centenário do seu nascimento.

Rouault

Georges Rouault, nascido em 27 de maio de 1871 em Paris, era filho de artesãos de origem rural e teve infância pobre e cheia de vicissitudes. Em 1881 descobre a pintura de Daumier, Courbet e Manet graças ao seu avô materno. Já em 1885, começa a aprender o ofício de um pintor como restaurador de igrejas antigas, inscreve-se na Escola Nacional de Belas-Artes como aluno de Delaunay e Moreau no ano de 1891. Quatro anos mais tarde, aconselhado pelo próprio Moreau, abandona a escola para seguir um rumo artístico independente, com a morte do professor em 1898, assumiu o cargo de diretor do museu organizado em sua homenagem; sua família transfere-se para a Argélia, porem, Georges continua em Paris, e após quatro anos, expõe no Salão dos Independentes também em Paris, e em 1903 expõe no Salão de Outono, o qual era um dos fundadores. No ano seguinte se junta a Bloy, cujas obras serviam de influência para seus ideais éticos e religiosos. Em 1911, após tendo se afastado de Bloy, junta-se a Jacques Maritain. Dois anos mais tarde vende toda sua exposição para Ambroise Vollard, que o contrata para ilustrar livros que pretendia editar. Em 1917, começa a série de gravuras que seria publicada em 1948 sob o titulo de “Miserere”. Doze anos depois, pinta os cenários de balé “O Filho Prodígio”. Já em 1945 desenha os vitrais para a igreja de Plateau d’Assy, e faz uma exposição retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. No dia 13 de fevereiro de 1958, veio a óbito.
Ludwig

Ernst Ludwig Kirchner nasceu em Aschaffenburg, Alemanha, em 06 de maio de 1880, e faleceu em Davos, Suíça, no dia 15 de junho de 1938. Fundador do grupo de pintura “Die Brücke”, Kirchner foi um pintor do movimento expressionista alemão. Filho de um professor de desenho, Kirchner sempre mostrou aptidão para a gravura e a pintura. Em 1901, iniciou seus estudos no curso técnico de arquitetura da cidade de Dresden. Para ganhar dinheiro, realizava trabalhos de decoração em casas e capelas, e pintava quadros. Em 1905, juntamente com três amigos do curso de arquitetura, Bleyl,Heckel e Schmidt-Rottluff, Kirchner cria um grupo de pintura denominado “Die Brücke” (a ponte), que ficará conhecido como a primeira manifestação do expressionismo alemão. Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, Kirchner passa a sofrer severas crises de ansiedade. Convocado, realiza treinamento militar, mas é dispensado em 1917. Em 1919, muda-se para os Alpes Suíços, e passa a viver uma vida reclusa. Continua pintando, dedicando-se com maior atenção às paisagens. Temeroso com a chegada de outra grande guerra, solitário e doente, Kirchner se suicida com um tiro no peito, no ano de 1938.
Marc

Franz Marc nasceu no dia 8 de fevereiro de 1880, na cidade de Munique, e faleceu em 4 de março de 1916. Era filho de Wilhelm Marc, um pintor profissional de paisagens, e Sophie Marc, calvinista radical. Um dos fundadores do grupo “Der BlaueReiter”, Marc é considerado um dos mais influentes representantes do expressionismo alemão. Quandojovem, Marc pretendia estudar filosofia ou teologia. Filho de um pintor profissional, porém, acaba se interessando por pintura, e em 1900 inscreve-se na Academia de Belas Artes de Munique. Suas primeiras obras são naturalistas, e Marc dedica-se especialmente a pintura de paisagens. Viaja duas vezes para Paris entre os anos de 1903 e 1907. Na capital francesa, conhece a obra de Van Gogh eGauguin, que influenciaria de forma definitiva o seu trabalho. Em 1910, faz amizade com os pintoresMacke, Münter e Kandinsky. Juntos, fundam o grupo “Der Blaue Reiter”, com tendênciasexpressionistas.Durante a Primeira Guerra Mundial, Marc apresenta-se como voluntário, e acaba morto em combate, no ano de 1916. Considerado em vida um dos mais promissores pintores de sua geração, sua morte foi lamentada por todo o mundo artístico.

Segall
Lasar Segall nasceu em 21 de julho de 1891 em Vilna, em meio a uma família pobre judaica. Em 1906, viaja a Berlim, onde estudou na Academia oficial, a qual se desligou para participar da Nova Secessão liderada por Max Liebermann. 1910, viaja novamente, desta vez para Dresden realiza sua primeira exposição individual. Já em 1913, participa da exposição de Arte Moderna no Brasil, 1914 a 1916, foi internado no campo de prisioneiros civis alemão, viajando para sua cidade Natal e logo após, retorna a Dresden. De 1920 a 1923, iniciou a organização de uma série de exposições, novamente no Brasil. No ano de 1929 viajou a Paris para a exposição na Galeria Vignos, a qual apresenta sua primeiras esculturas. Em 1932, retorna ao Brasil como co-fundador da Sociedade Paulista de Arte Moderna. Em 1943 participou da retrospectiva do Museu Nacional de Belas-Artes no Rio de Janeiro e em 1951 expôs na primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, a mesma que participou novamente em 1953. Em 2 de agosto de 1957, Segall falece em sua casa-atelier, que é transformada, por sua esposa, em um Museu.

Obras Expressionistas


“Os três estágios da mulher” (1894), de Edvard Munch, é um quadro pintado a óleo onde vemos do lado esquerdo uma mulher loira em um vestido branco, carregando flores e contemplando o mar, um reflexo de sua pureza imaculada. No centro da pintura, encontramos uma mulher ruiva, nua e com os braços cruzados atrás da cabeça, mostrando o lado sedutor e tentador de toda mulher. À direita, ainda podemos observar, mais uma mulher, porém esta tem o rosto pálido e veste um traje negro com os braços cruzados sobre o corpo. Separado pelo o que parece ser um tronco de árvore, um homem, também pálido e vestido com roupas pretas, dá a impressão de estar indo embora, carrega nas mãos o que seria um coração que sangra abundantemente, despejando sobre a terra a seiva de onde nasceram novas vidas.  A pintura carrega uma tristeza e melancolia, com a utilização predominante de cores escuras e um traçado que não mostra inteiramente o rosto dos personagens.

  “A Dança da vida” (1899/1900) é obra de Edvard Munch pintada a óleo onde aparentemente está representado um baile à beira-mar com casais dançando animadamente. Mas se observarmos melhor, vemos que o quadro foi estruturado para ser lido de maneira que acompanhássemos o traçar de uma letra M. À esquerda encontramos uma jovem mulher que parece estar desacompanhada usando um vestido branco com detalhes amarelos. No centro da imagem, um casal dança (ela vestindo vermelho, a cor do pecado e do prazer, e ele de preto). Ainda é possível perceber que o vestido da mulher parece envolver os pés do rapaz. No lado direito da figura, outra mulher, vestida de preto, observa a cena dando a impressão de ser viúva. No plano secundário ainda podemos observar diversos casais bailando, com as mulheres sempre de branco e os homens de preto. Acabamos, por fim, compreendendo que não se trata de vários casais, e sim, dos diversos estágios da vida. Representando a mulher da puberdade à viuvez, o quadro passa pela sedução, paixão e tentação e chega até a morte do homem, deixando a mulher sozinha, triste e melancólica.

            “O dia seguinte” (1894/1895) é outra obra de Munch, também pintada a óleo que mostra uma mulher deitada em uma cama totalmente exausta após uma noite de orgia. Talvez, a ideia do pintor tenha sido criticar a sociedade para a qual a mulher representada prestava serviços. No quadro, vemos também como era a vida dessas mulheres: aparentemente, repletas de festas, com muita bebida e sexo, mas que no dia seguinte mostrava o quanto essa vida era sofrida e cansativa. Essa obra é considerada expressionista, pois assim como a maioria das obras desse pintor, esta também procura expressar a vida interior, ou seja, os sentimentos e a visão que as pessoas têm do mundo, mostrando muitas vezes a dura realidade e não apenas as sentimentos bons. O quadro se encontra exposto, assim como grande parte das obras de Edvard, no Museu Munch, em Olso, Noruega. 

                “O grito” (1893) é uma das obras mais famosas de Munch. A pintura a óleo mostra em seu primeiro plano um corpo sinuoso e deformado – uma das características das obras expressionistas -, cujo rosto apresenta um aspecto cadavérico. Ainda são mostrados, na pintura uma ponte, na qual se encontram duas pessoas mal definidas do lado oposto ao qual se encontra o personagem do primeiro plano. O céu é de um vermelho alaranjado com tons amarelos, com traços que parecem ter movimento o céu se transforma em mar com diversos tons de azuis, e sem possuir uma linha fixa que delimita os dois. O quadro pode ter diversas interpretações, mas a principal dela é o terror, espanto e ansiedade que o personagem transmite, algo que vem de dentro e é expressado na pintura. 

“Puberdade” (1893) é uma obra pintada a óleo, mais uma vez do pintor norueguês, Edvard Munch, representa um dos momentos mais importantes da vida das mulheres: a transformação quando deixam de ser crianças e passam a ser mulheres. No quadro, vemos uma adolescente nua, mostrando seu corpo ainda infantil, ou seja, sem grande volume nos seios. Os braços magros curzam-se sobre a região vaginal, como que a esconder o objeto de suas apreensões e medos, um local desconhecido. O quadro mostra as incertezas que surgem nessa fase da vida de uma mulher, expressando os temores destas em relação ao novo caminho desconhecido que surge em suas vidas. Na obra, o pintor utiliza tons pastéis e traços imprecisos.

          “Ao espelho” (1905), de Georges Rouault, encontra-se atualmente no Museu de Nacional de Arte Moderna, em Paris. O quadro pintado com aquarelas, assim como muitos quadros de sua época, nos mostra uma prostituta, como podemos perceber através de suas características e os detalhes de sua pouca vestimenta, despojada de qualquer encanto feminino e envolvida de cores tristes. Rouault faz uma denuncia agressiva condição de vida dessas mulheres. A pintura pode ser considerada expressionista, pois mostra a profunda tristeza que emana do interior da mulher retratada, só de observarmos seu rosto no espelho, podemos perceber a vida dura e sofrida que essa mulher leva. 

Outro quadro expressionista de Rouault é “O casal Poulot” (1905), pertencente a Coleção Philippe Leclercq, Hem. Inspirado no romance La Femme Pauvre, de Léon Bloy, Rouault tenta transmitir através dessa pintura, mais uma vez pintada com aquarelas, o drama da pequena burguesia proletarizada e sua miséria no final do século XIX. Os rostos mostrando expressões duras e um tanto disformes representam a difícil vida que essa parte da população levava, mostrando certa raiva e isolamento, pois o casal não parece estar junto, não parece haver algo que os una. Na pintura há uma predominância da cor azul em tons marcantes. 

             “Crepúsculo” (1937/1938), de Rouault, foi pintado com aquarelas e descreve, de uma forma idealizada, paisagens da Palestina, ilustrando cenas do Novo Testamento da bíblia. Ao fazer esse quadro, o autor parece buscar uma aproximação pessoal com o ambiente religioso. Podemos perceber os traços expressionistas nos traçados grossos da pintura, nos rostos disformes dos personagens bíblicos representados e nas linhas que se misturam com a imagem, dando um ar um tanto abstrato a figura, ou seja, sem linhas firmes que determinam o contorno das formas.

           A obra de Rouault “Rosto de Palhaço” (1948) se encontra atualmente exposta no Museum of Fine Arts, em Boston, Estados Unidos. O retrato do palhaço assume no quadro deste pintor uma projeção épica, mostrando que ao contrário do que o artista que é o palhaço deixa transparecer, ele também sente dor. O pintor concentra sua atenção no rosto do retratado, tentando captar de todas as formas possíveis essa dor, através de suas tintas aquarelas. Os traços expressionistas estão presentes na forma disforme e caricata que o rosto assume, com traços grosseiros e fortes, expressando além da dor, certa raiva e angustia do palhaço.

   Cena de rua em Berlim” (1530), de George Grosz, mostra uma senhora vestida elegantemente fazendo-se de arrogante para fazer charme ao homem com quem troca galanteios, os dois acabam não reparando no velho que pede esmola na rua. Esta obra aquarela é uma caricatura das condições sociais da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial.  O artista ainda brinca com o orgulho egoísta e a depravação das pessoas nesse período. A obra caricata expressa a revolta do pintor diante de uma sociedade decadente e com uma moral totalmente distorcida. 

    “Metrópole” (1917), de Grosz busca a representação das mudanças que estavam ocorrendo em Berlim e outras cidades da Europa, durante a Primeira Guerra Mundial.  Com o vermelho dominando a obra, o artista utilizada de figuras sobrepostas para transmitir o ritmo frenético da cidade, mas ao contrário de muitos artistas, esse rápido crescimento da cidade não lhe traz uma interpretação otimista, mas sim, uma experiência da guerra nos levará a um estado de autodestruição e alienação do homem. 
             Na obra “A criança doente” (1885/1886), de um dos maiores pintores expressionistas, Edvard Munch, podemos observar o leito de uma garotinha repousada em um grande travesseiro branco, ao seu lado uma senhora que mantém o rosto abaixado, mas que nessa forma mostra seu silencioso desespero e tristeza pela morte da garota que parece inevitável. A menina, no entanto, está com o rosto sereno, expressando uma paz acolhedora, mostrando que já aceitou sua condição e está pronta para a morte. A obra pintada a óleo, traz a expressão da dor e da plenitude, ambos sentimentos que vem de dentro do ser humano e que são muito forte e profundos.

       “O Velho rei”, (1937), de Rouault está atualmente no Carnegie Institute, em Pittsbrugh, Estados Unidos. Essa é uma das obras mais célebres e grandiosas do pintor, onde ele retrata o antigo regime monárquico, através de um rei com expressões sérias e autoritárias, com muitas joias e o que parecem ser roupas caras, mostrando o quanto a monarquia monopolizava o poder e a riqueza nas mãos apenas de alguns, principalmente nas mãos do rei. O quadro pintado a óleo. Assim, como “Rosto de Palhaço”, possui traços grossos e cores fortes, parecidos com tantas outras obras do pintor.

            “Pierrô Aristocrático”(1941), de Rouault, pertence à Coleção Philippe Leclereq, Hem. Com tintas aquarelas seguras, o pintor sublinha nos retratos dos clowns a farsa da vida humana que se apartou de Deus. Com traços turvos e a representação do rosto de forma tanto caricata, o pintor utiliza de modelos artísticos expressionistas para representar o que eram esses populares palhaços, mostrando que eles também tinham seu lado sério e também poderiam se sentir melancólicos.

        “Separação” (1896), de Munch. Pintada a óleo a obra mostra um homem e uma mulher de cabelos amarelos, mas com um rosto aparentemente sem face, onde não se pode distinguir a boca ou os olhos. O homem pintado com tons mais escuros, leva a mão direita ao peito, dando a impressão de estar machucado, com o coração ferido e aos seus pés o que parece ser uma planta, dando a ideia que desse sangue, essa dor que escorre do peito do homem devido a separação faz nascer uma nova vida. Na obra, o pintor utilizou traços imprecissos que se misturam criando outras imagens dentro da própria pintura (como o vestido da mulher que parece formar a areia ao longo da praia).


A recepção, em 2014, do expressionismo.


Durante as primeiras semanas do mês de abril de 2014, realizamos uma pesquisa sobre o que as pessoas pensam a respeito das obras de uma das vanguardas europeias (as quais promoveram a ruptura dos princípios artísticos vigentes até o momento no ingresso do século XX): o expressionismo. Foram apresentadas aos nossos dez entrevistados três obras de dois grandes artistas expressionistas – “O grito” (1893), de Edvard Munch, “Ao espelho” (1905) e “O casal Poulot” (1905), ambas de Georges Rouault – e perguntamos se consideravam essas obras arte. No fim, 90% de nossos entrevistados disseram que sim, conforme o gráfico abaixo.
Quando perguntado porque considerava os quadros arte, Valdir Feller respondeu: “Eu considero essas obras arte, pois são uma forma de expressão onde o artista procurou retratar uma época, além de alegria e tristeza, ou seja, sentimentos.” Ele ainda completou dando sua definição de arte: “Arte é toda e qualquer expressão de um sentimento ou momento.”
Durante a pesquisa sobre a recepção do expressionismo atualmente, tivemos a oportunidade de encontrar ainda uma professora de arte, Sandra Rittmann, que pode nos ajudar a observar que as pinceladas e materiais utilizados pelo artista traziam ainda mais emoção e expressão a obra: “As duas obras de Rouault trazem cores mais frias, o que emana uma tristeza e profunda melancolia dos personagens pintados.” Já sobre o quadro “O grito” ela grifa a importância do movimento das pinceladas: “Para transmitir uma sensação de terror e espanto o pintor utilizou de movimentos nas pinceladas e ainda de cores fortes e marcantes.”.
Apesar de apenas um entrevistado ter admitido não considerar arte as obras apresentadas, alegando o fato de que elas não lhe transmitiam coisas boas, a maioria considerou as pinturas arte, porém no momento em que tiveram que justificar suas respostas ficaram sem palavras, mostrando-nos que um grande número de pessoas possui um pré-conceito sobre arte.  

Manifesto Expressionista

    O expressionismo propõe a expressão subjetiva dos sentimentos, tendo em vista que a realidade que circunda o artista é horrível, e este a deforma, criando uma arte abstrata, desvinculada do conceito de belo e feio. O manifesto desta vanguarda, escrito por Kasimir Edshmid, 1918, propõe uma arte mergulhada na visão do artista que expressa na obra o que antes por ele foi visualizado.

Manifesto Expressionista, de Edshmid:


     "Assim o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele não reproduz, ele estrutura. Ele não colhe, ele procura. Agora não existe mais a cadeia de fatos: fábricas, casas, doenças, prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos tem significado somente até o ponto em que a mão do artista o atravessa para agarrar o que se encontra além deles. Esse tipo de expressão não é alemão nem francês. Ele é supre nacional. Ele não é somente assunto da arte. É exigência do espírito. Não é um programa de estilo. É uma exigência da alma. Uma coisa da humanidade." (EDSCHMID, Kasimir. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p.111.).

Vídeos sobre o expressionismo



Ao assistirmos a dança expressionista de Zeca Gameleira, conseguimos perceber varias características da vanguarda em seus movimentos durante a coreografia. A inquietude, o enfrentamento e até mesmo o sentimento de “colocar tudo para fora” estão sendo muito bem representados pelo dançarino, que carrega com si uma máscara escondendo seu rosto, sua identidade. A dança não apresenta narrativa linear, fazendo-nos pensar que essa coreografia pode ser a representação do subconsciente do artista falando, características do expressionismo.

     No vídeo Expressionismo (Literatura e Arte), feito por alunos, é apresentado à história do expressionismo tanto na literatura quanto na arte, revelando-nos os pintores e escritores. Percebemos também nesse vídeo que a angústia, o desespero, as dores e as sensações são muito bem representadas, com imagens e cores fortes, características da vanguarda expressionista.

   O vídeo Expressionismo – Artistas, mostra-nos um pouco mais sobre o movimento Expressionista e sobre os seus realizadores internacionais e nacionais, artistas e autores, detalhando mais sobre a vida desses, fazendo-nos compreender melhor as ideias e sensações desses artistas expressionistas. Assim, compreendemos melhor os parágrafos a cima, podendo entender e visualizar as artes e os artistas dessa espetacular e impressionante vanguarda.

Bibliografia




EDSCHMID, Kasimir. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.

BEHR, Shulamith. Movimentos da Arte Moderna – Expressionismo. São Paulo. Cosac e Naify. Edições, 2000.

O livro das Artes. Editora Martins Fontes, 1999.

GONZAGA, Sergius. Manual da Literatura Brasileira. Ed. Mercado Aberto, 1991.

CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura Brasileira. Atual Editora, 2004.

MICHELI, Mário de. As vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ARGAN, Giulio. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das letras, 1993.

HELENA, Lúcia. Movimentos da Vanguarda Europeia. Ed. Scipione, 1993.

BAHN, Hermann Expressionismus (1914-1916), in: R. S. Furness. Expressionismo. São Paulo: Perspectiva, 1990.